Resgatemos o senso crítico
A agressão anda escalando nas relações, ampliando ainda mais a distância entre as diferenças. Nas últimas semanas o calor queimou muito mato, mas também o bom senso e o lugar comum. Os debates à Prefeitura, por exemplo, onde a divergência de opiniões frequentemente se transforma em ataques pessoais e desrespeito mútuo, ganharam ainda mais hostilidade e beligerância.
Embora não precisemos de um mundo onde todos se abracem e concordem em tudo, os conflitos precisam ser tratados com respeito e civilidade. Não são poucas as teorias que ensinam a expressar sentimentos de maneira um pouco mais honesta e empática. Em geral, promovem um diálogo que, embora firme, está baseado no respeito onde o argumento é peça-chave da disputa.
Um exemplo de como a comunicação pode ser conduzida de forma respeitosa, mesmo diante de críticas, foi visto na recente interação entre o cantor Raimundo Fagner e o DJ Alok. Fagner fez um comentário questionando a qualidade da música de Alok, criticando o fato de que hoje as pessoas parecem valorizar mais a diversão do que a música em si. Ele foi cínico ao expressar seu descontentamento com a popularidade da música eletrônica, dando a entender sua falta de profundidade. Alok, por sua vez, poderia ter respondido de maneira agressiva ou simplesmente ignorado a crítica. No entanto, ele escolheu um caminho mais elevado, valorizando a qualidade e a importância de Fagner na história da MPB e no cenário musical brasileiro. Essa resposta não só desarmou a crítica, mas mostrou como a comunicação respeitosa pode transformar um potencial conflito em uma oportunidade de reconhecimento mútuo.
Outro exemplo de polarização exacerbada tem sido vista na briga entre Elon Musk e Alexandre de Moraes. Este embate tem destacado ainda mais o medir de forças entre o empresário e o Ministro do STF, mas o efeito colateral é que a disputa foi para as arquibancadas, onde torcidas fervorosas de ambos os lados levantaram bandeiras. Problema é que os torcedores passam a se basear em narrativas simplistas, sem fundamentos sólidos que permitem uma compreensão completa das diferentes perspectivas. A guerra de narrativas levou os apoiadores de Musk a afirmar que o Brasil está se unindo a países com restrições severas à liberdade de expressão, como China, Coreia do Norte e Rússia, sem considerar as nuances e contextos específicos de cada situação. A abordagem, seja por ingenuidade ou má fé, impede um debate sério e informado.
A falta de senso crítico está nos levando a tomar partido das histórias que melhor nos convêm, enquanto deveríamos estar cultivando a capacidade de questionar, analisar e compreender as diferentes perspectivas antes de formar opiniões. Ao invés de um diálogo saudável e produtivo, o caldeirão de agressão e destruição parece estar se banalizando e entrando no repertório de pessoas comuns, como eu e você.
É preciso reconhecer que no cenário da vida nem todo o mundo é malandro, mas também não precisamos ser todos manés.
Kommentare