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O perigo do charme eleitoral e a urgente necessidade do senso crítico nas urnas

A cada eleição, as redes sociais têm sido responsáveis por um fenômeno eleitoral preocupante: a ascensão de candidatos a cargos eletivos que, sem um mínimo de história administrativa pública, preparo político, social ou cultural, alcançam perigosamente a linha de chegada de uma eleição. O que leva pessoas a votar em candidatos cujo passado desconhecem e cujas plataformas políticas mal tiveram tempo de analisar? Vivemos em uma era em que a comunicação imediata, repleta de mensagens programadas e espertamente editadas, passa a ser mais relevante do que a história da figura que a representa, independentemente se o que estamos vendo como resultado é realidade ou ficção.

Para entender melhor o fenômeno, devemos nos perguntar como essas figuras emergem. Sempre haverá na sociedade distintos núcleos de descontentamento e neles diferentes perfis de comportamento, desejos, expectativas e a esperança na chegada de um “salvador”.  Alguém que “se, não vai me tirar desta situação, que ao menos acredite no que eu acredito, fale o que eu penso e tenha a coragem que não tenho de dizer aquilo o que eu não digo”. Geralmente sem um pingo de bons modos. Existe genialidade nesses candidatos. Eles emulam as frustrações da massa e criam as narrativas necessárias para atender os seus desejos, manipulando ao longo do tempo as histórias que o coletivo dos “esquecidos” amaria ouvir.

A partir daí trabalham como poucos a capacidade de persuasão, embora apoiados por uma generosa dose de manipulação. Com arrogância e agressividade, um certo encantamento e alguma desonestidade, conseguem, em questão de meses, mobilizar verdadeiras hordas de seguidores, que se transformam em “zumbis eleitorais”.  A questão central, então, passa a ser a urgente necessidade de construirmos senso crítico entre os eleitores.

A história nos mostra inúmeros exemplos de líderes que, com discursos cativantes e uma postura confiante, causaram danos significativos à humanidade. Esse perfil de líder surge em todas as eleições, em qualquer parte do mundo, a despeito da ideologia que professam. A questão que se coloca é: como podemos evitar que essa situação se repita ou ao menos diminua? A resposta, embora pareça simples, é complexa: educação, conhecimento e informação. Apesar de estarem intrinsicamente ligadas, são fontes distintas para constituir o que realmente importa: a opinião individual.

A educação serve como uma base sólida que fornece ferramentas e métodos para analisar informações de forma crítica. Desenvolvendo habilidades como interpretação de texto, análise de contexto histórico e identificação de vieses, a educação capacita o indivíduo a formar opiniões mais fundamentadas. O uso de códigos e protocolos sociais adiciona leveza e elegância ao argumento em debates e conflitos.

Por sua vez, o conhecimento, adquirido por meio da educação formal, experiências de vida e interação com diversas áreas e pessoas, fornece o conteúdo necessário para apoiar a formação de opinião. Quanto mais amplo e profundo for o conhecimento sobre um assunto, mais completa e informada será a opinião. É o que chamamos de repertório.

Já a informação atua como matéria-prima para a construção do conhecimento e desempenha um papel essencial na construção da opinião. Como a informação muda constantemente, é essencial mantê-la atualizada para evitar erros. Deve ser analisada criteriosamente, considerando sua fonte, veracidade e possíveis vieses. Quando usada conscientemente, a informação alimenta o senso crítico e permite a construção de opiniões mais complexas e completas.


Profissionais de diversas áreas, sejam intelectuais, empresários ou trabalhadores de diferentes setores, podem e devem enriquecer o debate político, mas essas manifestações não devem ecoar os chiliques das ruas, dos programas de TV, dos posts em redes sociais; dos podcasts repletos de contrainformação, muito menos dos santinhos e vídeos digitais milimetricamente editados para mostrar pelo WhatsApp ou Telegram que focinho de porco é tomada. Com uma boa educação, conhecimento e informações atualizadas, é possível desenvolver um olhar crítico permanente. O benefício imediato para as pessoas é que automaticamente se darão conta de que “99%” do que recebem é lixo panfletário. Em uma eleição, é essencial questionar ativamente as propostas e o comportamento dos candidatos para compreender suas verdadeiras motivações. Sua conversa pode e deve ser um debate direto com o candidato e a equipe de campanha. A partir do momento no qual os canais digitais passaram a ser uma via de mão dupla, por que ainda precisa de intermediários? Aceite-os, talvez, para contribuir com perspectivas diferentes, mas não as use como única fonte para a sua opinião, ainda que ela responda aos seus mais recônditos anseios. Nesse diálogo com candidatos e partidos, avalie a viabilidade econômica das promessas de campanha, que muitas vezes são ilusórias. Em vez de aceitar passivamente o que apresentam, busque informações, compare fontes e forme sua própria opinião, mesmo que a conclusão o decepcione. Essa é a receita básica para as eleições e para a vida, pois o rio das incertezas sempre deságua no mar das fake news. E é muito melhor estar de boia em um mar revolto sabendo exatamente onde está do que à deriva em uma lancha.

O engajamento ativo e o pensamento crítico são fundamentais para fortalecer a democracia e escolher líderes que realmente representem os interesses da maioria. Passou da hora de invertermos a lógica. Precisamos de eleitores que questionem, que busquem informações o tempo todo e que não se deixem levar pela atual ditatura da superficialidade e da manipulação digital. O desenvolvimento do senso crítico é a única saída para evitar que candidatos despreparados e políticos preparados demais, mas que não apresentam nenhuma solução, sigam sendo a escolha de tanta gente. Precisamos, urgentemente, de uma sociedade que valorize o debate de ideias ao invés do heroísmo vazio e do discurso eloquente. Somente dessa forma poderemos garantir um futuro político mais justo e consciente. E aí sim, mais democrático.



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