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Blues do fiel amigo

A morte do golden retriever Joca voltou a tocar o coração de quem minimamente se importa com a vida. O que ainda não vi sendo debatido por aí é o quanto esse fato simboliza um padrão de atendimento que já nem é percebido pelos humanos, mas que todos os dias marca muitas das relações atuais: a indiferença. Podemos dar o nome que quisermos às situações que passamos no cotidiano: desleixo, desprezo, abandono, cochilo, descuido, displicência. Temos exemplos de descaso para dar e vender.


Acredito que não haja dúvidas sobre o fato de que as regras para uma convivência social saudável precisam ser pautadas pelo respeito, a compreensão e a empatia. A harmonia se manifesta quando há equilíbrio e bem-estar entre aqueles que dividem o espaço e, em minha opinião, nasce quando passamos a nos interessar pelo outro, mesmo que seja em um encontro passageiro. Sabendo que um cachorro estava sendo transportado, como ninguém o monitorou? Será que ninguém teve a curiosidade de descer ao compartimento de carga para saber como ele estava, ainda mais sabendo que iria ter de fazer o caminho de volta por um engano no despacho?


Exemplos proliferam e vão além do mundo animal. Crianças e idosos aguardam em intermináveis filas de hospital e cumprem 5 minutos de atendimento após 5 horas de espera; profissionais da saúde dobram a escala para atendê-los e são obrigados a ouvir cobras e lagartos depois de um dia extenuante. Você investiu rios de dinheiro naquele automóvel, mas ele quebrou com uma semana de uso e ninguém quer se responsabilizar pelo problema, deixando você a pé até que uma solução apareça. Para onde quer que olhe existe um produto e com ele um serviço que deveria encantar. Vivemos a era da experiência do cliente e ela se baseia no clássico pessoas, processos e tecnologia. A tecnologia pode falhar, o processo pode falhar e até mesmo as pessoas podem falhar, mas seres humanos ainda têm uma vantagem: o sentimento. Erros podem e devem ser corrigidos com atitudes: é rápido, indolor e revigorante.


A preocupação genuína com o próximo é transformadora. Não se trata de ser útil aos demais, mas de mostrar que nos importamos com eles, que estamos presentes e dispostos a contribuir para o seu bem-estar, mesmo que sejam estranhos a nossa jornada. A conexão humana fortalece a teia de uma sociedade próspera, segura e valorizada.


Que a triste partida de Joca nos sensibilize e nos faça entender que os demais precisam de atenção e cuidado. Fará toda a diferença na hora da chegada ao destino.



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