A vitória dos improváveis
Na noite de ontem, Fernanda Torres subiu no lugar mais alto do pódio do Globo de Ouro, recebendo a merecida estatueta de melhor atriz por sua atuação no filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles. O momento marca um feito histórico, porque Fernanda se tornou a primeira brasileira a conquistar o reconhecimento da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, exatamente 25 anos depois de sua mãe, Fernanda Montenegro, ter sido indicada na mesma categoria por "Central do Brasil". Enfrentando concorrência de peso com nomes como Angelina Jolie, Nicole Kidman e Kate Winslet, Fernanda desafiou as expectativas e nos lembrou que as surpresas, muitas vezes, são mais previsíveis do que aparentam.
Quando pensamos em surpresas, frequentemente as associamos a situações inesperadas. Contudo, a vitória de Fernanda não é mera obra do acaso. Ela é fruto de uma combinação magistral de talento excepcional e de um planejamento estratégico meticuloso. Sua brilhante atuação não foi apenas um golpe de sorte, mas resultado de um filme que percorreu mais de cinquenta festivais internacionais e contou com a presença ativa dos protagonistas, Fernanda, Walter e Selton Mello, começando pelo Festival de Cinema de Veneza, em setembro do ano passado.
O triunfo de Fernanda testemunha que, no mundo do cinema, e em muitos outros, diga-se de passagem, o talento precisa ser acompanhado por uma execução estratégica impecável. A presença constante nas coletivas de imprensa, o contato direto com o universo cinematográfico e a disposição para enfrentar longas jornadas e infindáveis entrevistas foram fundamentais para que o filme e sua atuação ganhassem o prêmio. Esse esforço incansável é algo que extrapola o trabalho de atuação em si. Exigiu disciplina, resiliência e, acima de tudo, humildade para enfrentar e superar adversidades.
Em um ambiente repleto de veteranos e figuras estabelecidas, Fernanda Torres nos mostrou que é possível quebrar barreiras e redefinir expectativas. A emoção no palco, ao receber a estatueta das mãos de Viola Davis, refletiu a incredulidade diante da vitória, mas também a concretização de um sonho que parecia além do alcance. Fernanda deu entrevistas à imprensa brasileira no mesmo dia afirmando que nem discurso havia preparado porque entendia que a possibilidade era mínima diante de um elenco tão magistral. O feito de Fernanda, além de nos encher de orgulho, desafia mais uma vez a velha síndrome de vira-lata, de Nelson Rodrigues, que muitas vezes ainda permeia a nossa percepção de potencial e habilidade.
A vitória dos improváveis é um lembrete de que a conjunção do planejamento com estratégia, foco e, acima de tudo, coração e talento, pode nos levar a alcançar o que parece impossível. Que o que vimos ontem nos sirva de inspiração para seguirmos ousando, acreditando e, quem sabe, surpreendendo o mundo com vitórias que ainda estão por vir.
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