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A sábia aposentadoria de Hermanes

Quando completou 37 anos, em maio do ano passado, Anderson Hernanes de Carvalho Viana Lima, ou simplesmente Hernanes, ídolo do São Paulo e da Lazio, com carreira também na Juventus de Turim, Inter de Milão e Seleção Brasileira, decidiu pendurar as chuteiras. Para os padrões do futebol de hoje, em que a fisiologia e a medicina esportiva estão muito avançadas, podemos dizer que o homem parou cedo.

Respeitado por sua torcida, mas também por seus adversários, Hernanes sempre foi mais do que um bom jogador de futebol. Passou a ser conhecido como “Profeta”, por abordar distintos temas além do esporte e de filosofar em frases de efeito. Hernanes foi um craque também fora das quatro linhas, seguindo a escola dos raros como Sócrates, Tostão. Bierhoff, De Jong, Iniesta, Van der Sar e Chiellini, apesar de não ter feito faculdade como esse time de craques.

Esta semana ele voltou a ser notícia. Retornou aos gramados, mas na sétima divisão do futebol italiano, na equipe amadora do ASD Sale, da região de Piemonte. A primeira reação do torcedor foi a de se perguntar o que teria passado pela cabeça do jogador para mudar de ideia em menos de dois anos e terminar no futebol amador depois de tantas glórias.

Terminar? Esse é só um novo começo. Hernanes não voltou ao futebol como jogador arrependido. Ele na verdade escolheu o futebol amador para manter a forma e se divertir com amigos, sem as obrigações do esporte de alto rendimento. Acaba de concluir a Licença B da UEFA, uma das oito autorizações profissionais da entidade máxima do futebol europeu. Trata-se de uma licença intermediária que se concentra na melhoria das habilidades técnicas e táticas de treinadores e na habilitação para treinar equipes de jovens. Um de seus companheiros de classe foi Franck Ribéry, o francês que fez história no Bayern de Munique.

A vida de Hernanes anda bem agitada. Este ano também já lançou um livro e segue administrando a Ca’ Del Profeta, vinícola de sua propriedade em Montaldo Scarampi, ali pertinho onde bate a sua bola e onde produz ao ano mais de 10 mil garrafas. Como se não bastasse, é proprietário do Corveta, restaurante refinado em Fernando de Noronha, além de possuir outros negócios, no Brasil e na Itália.

Hernanes mostra com sua filosofia de vida que a palavra “aposentadoria” vem perdendo significado ou, em uma visão mais otimista, ganhando muitos outros. Hoje as carreiras de longa duração ainda podem ocorrer e satisfazer a muita gente, mas o acesso à informação, ao conhecimento, às tecnologias (aos recursos financeiros também) e às oportunidades que se apresentam na vida das pessoas têm servido como trampolim para outros passos que podem garantir o sustento e, tão importante quanto isso, a satisfação e os prazeres.

Seria ingenuidade supor que espelhar o projeto de Hernanes esteja ao alcance de todos, mas não se trata de equiparar o realizado por ele mas de entender que, guardadas as devidas proporções, é possível começar a desconstruir que a vida de um profissional precisa ser em linha reta.

Hernanes é um profeta de si mesmo, porque planejou e tomou decisões corretas dentro do seu tempo, sem jamais abrir mão de sua maior paixão, o futebol. O autodidata segue marcando golaços e dando exemplo de que pensar no futuro não necessariamente significa desperdiçar o presente.




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