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A IA muda o jogo, mas não todo

Já não se trata de um exercício de futurologia. A inteligência artificial (IA) ocupa um espaço cada dia mais presente nas tarefas, transformando o trabalho, a escola e praticamente tudo ao nosso redor. Daqui a pouco nem falaremos mais disso. Pelo menos não com esse mesmo entusiasmo. No entanto, enquanto abraçamos essas inovações, é preciso refletir sobre o papel insubstituível da educação na formação de jovens para um mundo mais complexo, mas nem por isso menos humano. A IA pode nos auxiliar em inúmeras tarefas, mas há aspectos fundamentais da experiência pessoal que ela nunca irá substituir: empatia, criatividade, valores e decisões éticas, como exemplos. 

Verdade que estamos todos ensandecidos, em uma motivação amplamente justificada. Após tantos anos de marasmo na execução de tarefas e conceitos repetitivos com nomes distintos, entender que agora o apito toca de um jeito diferente é bem mais divertido e engajador. Portanto, você pode e deve entrar nesse trem a 1000 km por hora, mas saiba que ele precisa de paradas e manutenções.

Talvez o primeiro passo seja lembrar que não podemos delegar completamente nosso pensamento crítico e nossa capacidade de julgamento às máquinas. A inteligência artificial pode processar dados em velocidades inimagináveis e fornecer soluções eficientes, mas a reflexão humana, a análise contextual e a capacidade de questionar são insubstituíveis. Temos de ser vigilantes para não nos tornarmos passivos, aceitando cegamente as respostas fornecidas por algoritmos, deixando de lado o exercício de nosso próprio discernimento.

Acredito que a experiência mais bem-sucedida vai integrar o melhor da tecnologia com o melhor do pensamento humano, colocando a máquina em seu devido lugar, o de ferramenta auxiliar para gerar potência à capacidade humana, e não um substituto para a mente. Isso tem de ser um mantra em casa e na escola, para que as crianças e jovens de hoje entendam de largada o lugar de cada um nesse tabuleiro.

Yuval Noah Harari, o escritor israelense, historiador e autor de "Sapiens", "Homo Deus" e "21 Lições para o Século 21", tem adotado uma postura cautelosa e crítica sobre o tema. "Sabemos pouco sobre nossa mente e, ao invés de explorá-la, focamos em aumentar a velocidade da internet e a eficiência dos algoritmos. Sem cuidado, podemos acabar subutilizando nosso conhecimento e capacidade de relacionamento". Jaron Lanier, filósofo e cientista da computação, argumenta que a tecnologia não é neutra. "Estamos imersos em um sistema que está nos moldando de maneiras que muitas vezes não percebemos. Deveríamos estar cientes de que a artificialidade está influenciando nossas interações e percepções". Em "Alone Together", a psicóloga e socióloga Sherry Turkle destaca os riscos de isolamento e nos convida a valorizar as conversas pessoais e a presença genuína que nenhuma IA pode replicar. 

Parece de bom tom equilibrar o "touch" com o "human touch". A melhor equação seria integrar as tecnologias de maneira que enriqueçam nossas vidas sem substituir os elementos essenciais da experiência - alguns deles pilares que sustentam nossa humanidade e que devem ser cultivados tanto quanto a inovação tecnológica. A verdadeira revolução poderia estar, então, na fusão da velocidade dos algoritmos com a profundidade das conexões que somos capazes de construir entre nós.

Incentivar os jovens a pensar fora da caixa, a explorar novas ideias e a confiar em sua intuição é essencial. Precisamos de espaços que estimulem a curiosidade e a experimentação, onde o erro seja visto como uma oportunidade de aprendizado. Este final de semana, meu filho teve de fazer um bolo como lição de casa. Ele, que gosta tanto de jogar no tablet, vibrava ao misturar ingredientes e ver a magia acontecer no forno. Percebia claramente explorar dimensões mais sensoriais e sentir sabores e aromas que não pode vivenciar nas telas.

O Tal do senso crítico

Decisões éticas e morais serão sempre o alicerce de uma sociedade mais justa. Nessa complexidade, é vital que os jovens desenvolvam um senso crítico e uma sólida base de valores. Cabe a nós guiá-los a refletir sobre as consequências de suas ações e a considerar o bem-estar coletivo. Isso exige que sejamos modelos de integridade e responsabilidade, o que para nós, mais experientes, é menos difícil, uma vez que ainda estamos trazendo conosco essências de tempos mais orgânicos.

Enquanto navegamos pelas mudanças trazidas pela IA, não percamos de vista o que nos torna humanos. A educação deve ser um farol que ilumina o caminho para um futuro no qual a tecnologia e a humanidade coexistam de maneira harmoniosa. Nosso papel como adultos é garantir que os jovens estejam equipados com conhecimentos técnicos, mas também com habilidades emocionais e éticas. 

Não se trata apenas de abraçar as novidades, mas de saber como lidar com elas, domesticá-las e controlá-las para criar um ambiente positivo, colaborativo e criativo. Assim, podemos desfrutar do melhor que a vida tem a oferecer, como indivíduos e como sociedade.



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