Comunicação para não comunicadores
Há muito tempo fiz um curso de finanças para não financeiros. Achei extremamente apropriado para mim. Não só rompeu meu paradigma de que a turma de humanas não entende de números, como me ajudou a acreditar que a paúra de matemática que carregava dos tempos do colégio era alguma coisa cármica que logo passaria. Se isso funcionou para um montão de profissionais de comunicação que hoje dão um show de gestão em algumas empresas, por que não funcionaria para outras profissões em relação àquilo que nós comunicadores temos por vocação? Pensei até criar um curso com esse nome, mas achei que ele já deve existir por aí e, se tem uma coisa que comunicador não gosta é falta de criatividade. Ainda que o assunto também seja pauta de outros autores, resolvi escrever.
Engaja o quê? Na roda de amigos de profissão, nos artigos que lemos aqui e acolá e nas palestras e seminários que se produzem aos borbotões, há sempre uma pergunta sem resposta precisa e várias respostas a partir de perguntas imprecisas. É da natureza do caso, de qualquer caso. Entre eles o tal engajamento. Engajar os colaboradores passou a fazer parte da agenda. Quem não incluir isso, babau, tá por fora. Na verdade, levar alguém a algum lugar de forma intensa e produtiva sempre foi um desejo das empresas, embora ninguém chamava isso de engajamento e muito menos entendia como lidar com o assunto de maneira consistente. Até porque muitos acham que essa é função do RH ou dos meninos lá da Comunicação. Aliás, nada contra o tratamento carinhoso, mas é preciso dar um "tapa" nessa imagem. Bem, antes o engajamento envolvia uma mistura de conceitos de participação e motivação, sem dar-nos conta de que nem sempre ambos exigem estímulos externos. Como temos uma tendência irrecuperável de reinventar coisas a partir de nomes diferentes, corremos o risco de achar que estamos falando de mais uma trendy expression, assim como foi o branding anteriormente. Vamos engatando uma novidade atrás da outra sem conhecermos de fato o que elas significam. Mas engajamento não é apenas mais um termo da moda. Ele reúne o conhecimento que tínhamos sobre informação, integração, motivação e participação no trabalho, e demos a ele uma causa. Afinal, pelo que estamos lutando em nossas empresas? O resultado disso tem origem na correlação entre a causa e os valores, princípios e atributos que as organizações constroem ao longo de sua história. Fazer parte de algo e dar sentido a esse algo é o que formata o engajamento.
Fala, que eu te escuto. Ouça, que eu te falo. A ideia da comunicação para não comunicadores parte da premissa de que não há engajamento possível sem uma liderança ciente de sua inteira responsabilidade em relação à empresa e seus liderados, mas também pares e colegas. Uma empresa não se movimenta com qualidade sem que os gestores tenham capacidade de compartilhar causas e consequências; ideias e ações, em prazos e momentos oportunos. Falar, mas também ouvir. E muito. Não será suficiente ler artigos ou participar de palestras e seminários para aprender a comunicar se não houver sensibilidade em relação ao assunto por parte de todo e qualquer profissional, e a percepção no board de que para entrar no barco, uma boa Governança exige que todos saibam para onde estão remando, por quais motivos estão remando e para que fins estão fazendo. Se todos entendessem o peso das palavras e, melhor ainda, o peso de sua ausência, trabalhar seria um exercício com muito mais significado para todos.