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O estado de ânimo dos PIGS

Tomada 1: Espanha Antes de seguir adiante com este artigo, entre em estosololoarreglamosentretodos.org/ e veja a campanha de comunicação que as principais empresas espanholas acabam de lançar como tentativa para afastar a crise econômica pela qual o país passa há dois anos - a pior desde a retomada de sua democracia. Entre os problemas, mais de quatro milhões de desempregados, inadimplência recorde, brutal queda no crédito, uma xenofobia latente e um dos piores males que uma Nação nessa situação pode sentir: a baixa autoestima e a desesperança de sua população. Tomada 2. Grécia O mais recente foco de crise na Europa, no entanto, vem do berço da civilização ocidental e da democracia. Incapaz de reduzir o déficit público, o país não consegue reagir pela falta de competitividade de sua economia. Hoje, os gregos vivem entre o medo de não saber como enfrentar o amanhã e a vergonha de não ter feito nada para evitar o mal maior produzido pelos excessos cometidos nos primeiros anos de bonança de sua entrada na zona do Euro. Como quase sempre acontece, o governo decidiu lançar um pacote de medidas que aperta os cintos, mas as reações foram imediatas e as manifestações contra a política de arrocho foram convocadas pelos sindicatos e pelos jovens via SMS, blogs e redes sociais. Tomada 3. Irlanda Sim, é o país da Guinness, dos pubs, do U2, do Saint Patrick's Day e de um monte de coisas boas. Aparentemente festa todo o dia, mas o chope azedou. A Irlanda foi o primeiro país europeu que sentiu a crise do subprime norte-americano. Entrou em recessão em 2008 e até agora não conseguiu sair do lugar, apesar de remar contra a correnteza desde então com o aumento de impostos e a redução dos gastos públicos. Uma lição ao menos ficou clara: o sucesso econômico continua sendo a chave para o êxito político. Digamos que os homens que comandam o país perderam a chance de explicar antes o que estava para acontecer e, para piorar, não convenceram ninguém de nada depois que o problema se instalou. Tomada 4. Itália Não é de hoje que a economia italiana vem sofrendo com o endividamento público. Este supera todo o seu PIB. Por mais que o país tenha uma indústria criativa, ela não tem sido suficiente para compensar a administração que vem sendo feita por lá. É um tanto paradoxal que um especialista em meios de comunicação como Silvio Berlusconi não tenha utilizado suas habilidades frente às câmaras e microfones para resolver o que precisava ser resolvido nos bastidores. Ao contrário, foi protagonista de escândalos e negou frequentemente verdades escancaradas. Tomada 5. Portugal Assim como os demais, Portugal acostumou-se com uma dívida pública crescente e encontrou dificuldades para enfrentar as oscilações do mercado internacional. Também como acontece em sua vizinhança, especula-se que o problema maior resida na questão da autoestima. Ao menor sinal de crise econômica ou de algum problema social, se pode ouvir no café da esquina, em uma rua do Porto ou de Lisboa, “isto só mesmo em Portugal” ou “somos a cauda da Europa”. “Facto” é que otimismo não é atributo dos mais fáceis de encontrar ali, segundo os próprios portugueses. Tendo motivos ou não para serem assim, verdade é que o fado não é samba e tudo isto existe, tudo isto é triste. Tomada 6. Epílogo PIGS são as iniciais em inglês dadas por especialistas e acadêmicos ao conjunto de países formado por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, que hoje estão entalados em um lamaçal e desfrutam de um entorno econômico mal cheiroso. Ao contrário dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), ganharam um apelido que fez parlamentares da União Européia apresentar queixas a bancos, universidades e meios de comunicação. Sem sucesso, evidentemente. Porém, é preciso deixar claro que focinho de porco não é tomada. Por isso, mais do que falar de problemas econômicos, é preciso aprofundar-se na crise de identidade pela qual esses países passam. Assim como acontece com muitas empresas, tiveram a oportunidade de se preparar para o pior, mas esqueceram o plano na gaveta. Não falaram a verdade, não usaram os canais mais apropriados, não alinharam o discurso e pior: não utilizaram a linguagem da população. Nunca é tarde para mudar isso. Mas lembre-se da última frase que encontramos no vídeo espanhol dita pelo chef do El Bulli, Ferran Adriá: “não esperemos que as soluções sejam apresentadas por um guru. As soluções estão em nós”.

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